Amigo

Amigo

Se você tem esse endereço eletrônico é porque é mais do que bem vindo

Com certeza você me ensinou a escrever

me ensinou a apreciar a boa literatura, a filosoia e a canção

participou de meus primeiros rabiscos

valorizou minha alma vertida em palavras

certamente você esteve presente em momentos importantes

poéticos ou frustrantes, pacificos ou revolucionários

provavelmente já escreveu comigo ou ao meu lado

já leu alguma coisa minha e me pediu mais

ja me incentivou e ja me corrigiu

você já fez sarau, caretas, fofocas e confidencias comigo

e eu já te amei ou ainda te amo

e você sabe que nossa distancia não é nada

e você sabe que odeio computador

e você sabe que nunca publiquei e que não creio que o acesso a internet me faça poeta

você sabe que não tenho um grande valor literário

mas que valorizo a literatura

você sabe que um dia gostei que você me leu

e que quero ler você

você sabe que escrevo por necessidade, porque faz parte de mim

e que me envergonho de ter me distanciado tanto disso

você sabe que não tenho estilo

só paixão

Você sabe que você cabe em cada uma das palavras anteriores

Prazer em recebê-lo.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Crônica Cotidiana


Duas transeuntes, abundantes em largo sorriso e vasta carne,
Passavam pelo calçamento,
Quando avistaram um bichinho e seu animal de estimação,
O bichinho, enrolado em torpes trapos envelhecidos
que imitavam uma coleira, brincava derredor do animal,
enrolado, cansado, magro como a fome e comido pela peste,
sacudia cansadamente o toco de rabo sujismundo
Demoraram alguns longos segundos para conseguirem atravessar o passeio público
E se desvencilhar do bichento,
E ambas senhoras, de nobre e boa família tradicional brasileira,
Saíram exclamando:
Pobre coitado! Na rua! Com fome e sede! Deve até apanhar!
Bem...
O animal tinha patas e focinho queimados de crack e olhos esmaecidos
Mas as mulheres, senhoras e senhores,
Tinham tamanha dó e piedade cristã
Do bichinho

Não do homem.

segunda-feira, 24 de julho de 2017


Parte 3

Amo-me em ti
Em ti firme, de músculos tesos dentro de mim
Mãos quentes na minha cintura a impulsionar-me pra cima
Subo com a força dos espasmos de minha vagina ardente
Agarro-me a teu pescoço molhado de suor
Tremo...
Teu membro lambe minha pele vaginal ardente
Teus dedos ágeis tiram-me notas agudas de prazer
Quero gemer em teu ouvido, como sinal animal de plenitude
Quero que exploda em mim seu sêmem, seus sonhos
Quero ser-te vaso fiel de porra, estado liquido de paixão instantânea
Beijos loucos no pescoço, no bico do mamilo arrepiado, na concha suculenta entre minhas pernas
Quero tremer de prazer em teus braços quantas vezes desejar
Quero a luxuria como prêmio e não como pecado
Quero o tesão do seu streep tease de roupas e alma
Sua língua expandindo as sensações da minha pele por onde toca
A sensação de plenitude prazerosa
De tesão pulsante
De chamas frias e radiantes saídas de cada poro
Da pele eriçada
Quero a embriaguez de teus dedos enroscados em meu cabelo
...Quero pra sempre...
E não numa única noite de prazer desvairado
Prazer que o mundo se nega a saber que existe
Posto que é chama inebriante de desejo

Que corrompe almas cristãs na noite fria e bela.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

É culpa minha

Essa angústia e esse choro na garganta o tempo todo
É culpa minha

Essa solidão avassaladora e a sensação de não ser suficiente
É culpa minha

A sensação de que tudo que sou, tudo que fiz, tudo que sonho, almejo e sinto são facilmente ofuscados pelo fato de eu ter kilos de gordura a mais no meu corpo
É culpa minha

Pensar que agora, todas estas palavras estão aqui por um complexo besta de inferioridade, como se a verdadeira gordofóbica fosse eu
É culpa minha achar que tudo isso pode parecer choramingos e que vai te afastar ainda mais
É culpa minha você se afastar?

Ou você o faria de qualquer maneira porque eu não sou o retrato fiel dos seus sonhos e anseios?
É culpa minha você querer me encaixar no seu perfil perfeito de match no tinder, ao invés de me conhecer tal como sou e me oferto... oferto mesmo, com toda a sinceridade e generosidade... sem emprego de falsidade, jogos sentimentais ou psicológicos... me oferto ao mundo o tempo todo, de alma e coração... incapaz de me resguardar e me proteger... é culpa minha mesmo...

Inundo mundos como oceano, cheia da riqueza do meu coração, amando a cada esquina, a todo o momento... e recebo em retribuição gozação... no duplo sentido... gozam em mim... depois gozam de mim e se vão....

Estão gozando no meu coração...

É culpa minha... e a dor rasga a garganta, pressiona o coração de encontro a coluna vertebral como uma mão de ferro a atacar-me ... quero matar-me

Quero morrer-me

Quero fugir de um mundo ao qual não basta meu coração... querem também meu sangue, minha aparência, maquiagem, salto alto, sorriso, coragem, brio, força, competência, sucesso, barriga tanquinho, sedução, beleza, lividez, fidelidade, decência, pudicidade, virgindade, santidade, obscenidade e um piercing sexy, por favor.


É culpa minha....
Quando você está aqui
Parece que finalmente meu príncipe encantado chegou
E eu nem estava esperando
E eu nem acredito em conto de fadas
E eu já vivi um “felizes pra sempre” que foi mais um “dormindo com o inimigo”
Eu só queria paz, você diz...
Nossa! Eu também... a paz de ser amada pelo que sou
Amada como sou e mais do que amada
Porque me amar não é lá tão difícil... á distância!
Quero ser cuidada... quero alguém que compreenda que a última volta no cavalo branco
Virou um pesadelo do tipo “velocidade máxima”
Eu cai e fui atropelada por uma manada de búfalos
Queria me jogar do precipício do amor
Com a certeza de que seus braços fortes e seu peito nu estará lá no fim do vôo
Me esperando para que eu me deite e descanse
E não apenas crer que estes braços me acariciam apenas no banho, no corpo nu, no pré gozo
Queria que você se dispusesse a ser meu ninho
Meu recanto de sossego e paz
Meu eterno Chevalier
Meu pouso alegre, minha confiança, meu solo seguro
Quero ser tua segurança também... contra toda a razão... apesar de toda a bagagem
Mas sua bagagem requer apenas cuidado, amor e paciência
A minha requer entrega
Entrega total
Requer o desejo insano de me fazer seu passarinho
Me ensinar a voar e estar com meu ninho de amor preparado a cada retorno
Queria que você quisesse
Olha que perigo!
Cuidar de mim pra sempre...

Cuidar de verdade, do jeitinho que eu sou...

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Estou nua, sentada na cadeira de frente para a janela aberta
O céu cinza chumbo; parte porque vai anoitecer em breve
Parte porque aqui é chuvoso e poluído.
É sexta feira, quase a noite, estou na cidade mais badalada do país
Mas não sinto vontade de me mexer.

Estou cheia de palavras e mesmo assim elas saem com dificuldade
Meus dedos batem no teclado como numa máquina de escrever
Lembro me com docilidade da primeira vez que meu pai
Datilógrafo competente, digitou em um teclado,
Pobre maquinário, como apanhou naquela noite!

São tantas palavras como num enxame de abelhas
Que me picam ferozmente por dentro das veias
Quase perco o fio do pensamento, a linha do discurso
Retomo

Estou sentada na cadeira, abraçando meus joelhos,
Com os cabelos soltos e nua
E essa é uma posição desconfortável porque sou gorda
Mas no meu quadro mental é bonita e frágil

Minha pele toca o assento da cadeira de tecido texturizado
O encosto de madeira lisa
Minha pele toca minha própria pele
O frio toca a minha pele e a arrepia, eriçando meus seios
Minha boca toca suavemente o meu ombro
Aos poucos a boca se abre, a língua experimenta a pele,
Os lábios e os dentes tocam a pele
Me mordo

Quero sentir o toque de alguém
Não quero me sentir desperdiçada, envelhecendo sozinha, sem ninguém.
A mordida tem gosto de sangue
E desejo que alguém me experimente

Minha pele ainda é perfumada, arrepiada é bonita apesar das celulites e estrias,
Meus cabelos são brilhantes e ondulados, embora alguns fios já nasçam prateados
Eu os acho belos, refletem a lua...
Queria que alguém me experimentasse!
E se permitisse querer cada vez mais.
Experimentasse sem medo, nem pudor
Experimentasse, mordesse, mastigasse, comesse por todos os poros.

Porque todo o sabor e aroma que tenho por fora
Refletem a profundidade da minha alma e do meu ser
Gostaria que alguém se dispusesse a me mergulhar
Oceano...

Você pararia o que está fazendo agora e viria ao meu encontro?
Você que me ama, meus amigos, irmãos, anjos que me deram a vida
Seria possível parar tudo agora e vir ao meu encontro?
Não. Ninguém viria.
Mas se lhe chegasse um convite de velório
Velar meu corpo, minha pele eriçada e cheirosa apesar das celulites
Meus cabelos ondulados e brilhantes apesar dos fios prateados
Se fosse para me velar, ver meu corpo pela última vez
Então viriam? Deixariam tudo pra trás agora e viriam?

Apesar do erotismo, apesar das palavras nefastas
...
Não.
Não vou me desculpar pelo erotismo, nem pelas palavras fúnebres.

Sofro assédio constante pela minha pele eriçada e meus cabelos brilhantes
Apesar de ser gorda
E também não estou me desculpando por ser gorda
Esse assédio me cansa, me limita e me enoja
Esse assédio me esvazia, me coloca num lugar muito simplista
Muito abaixo do que realmente sou.

Quero ser desejada, mas não assediada
Quero alguém que deseje me acompanhar apenas por que meu caminho parece interessante
Que deseje conversar apenas porque posso oferecer temas interessantes
Que deseje me oferecer a melhor parte de si apenas porque reconhece que ofereço a melhor parte de mim
Que deseje confiar em mim apenas porque deseja ser confiável
Que deseje me proteger porque me ama e não porque eu preciso
Que deseje beijar minha boca pelo o que ela diz e não apenas por seu gosto

Que deseje meu corpo porque é a forma mais direta de tentar tocar minha alma.

segunda-feira, 27 de março de 2017

homem de rua

Parece que o menino nunca morre dentro do homem
Por mais que o cimentaram
Que o abandonaram sozinho
No fundo de um poço vazio de água e de alma
Por mais que caminhões o tenham atropelado
Que a poeira da estrada tenha impregnado suas lágrimas que secaram
Que não escorrem mais, pois que viraram lama
Por mais que a pele seja enrugada pelo tempo
O rosto esteja arroxeado e ralado pelos socos da vida
Ha um menino morando ali
Um menino que ama poesia
Um menino cujos dedos nodosos das lutas na rua
Sabem dedilhar as cordas
Qualquer canção tem melodia de choro de criança
E todo o sorriso
É traquina e malandro como um garoto que acabou de fazer oito anos
Garotos presos num corpo grande
 Perdidos num labirinto cinza
Cheio de minotauros e sem nenhum fio condutor

Ontem ultrapassei definitivamente a linha da juventude.



Parece dramático demais, mas bem, sou assim mesmo, meio dramática e bipolar, com a licença poética da palavra. Fiz 31 anos e não é possível chegar a essa idade sem pensar no que estamos fazendo da vida. Foi então que comecei a me deparar com uma enorme crise, que até pode justificar a sensação de bipolaridade: indivíduo x sociedade.
Afinal, comecei a enumerar tudo o que tenho e sou para tentar descobrir se eu poderia me considerar uma pessoa de sucesso, mas a tarefa foi tomando tamanha dimensão que não sabia mais separar aquilo que eu desejava pra mim, daquilo que a sociedade almejava pra mim: mulher, classe média, ensino superior completo, aos 31 anos.
Eu não sou mãe. Eu não tenho um relacionamento sério no status do Facebook, nem fora dele. Não tenho emprego estável. Não tenho nenhum projeto promissor. Mestrado? Não, obrigada.
Comecei a me sentir a síntese do fracasso.
Como pode, uma mulher com 31 anos, não ser mãe? E pior! Essa é uma decisão que tem prazo de validade, pelo menos para nós mulheres, não é o tipo de coisa que possamos adiar pra sempre, os ovários estão conosco há anos e envelhecendo junto com o rosto, antes tão lisinho e agora com seus terríveis pés de galinha, e mesmo que você não tenha pés de galinha, os ovários envelhecem com o calendário, não tem jeito e não dá pra por botox no ovário... Se eu ficar grávida agora, de forma independente, quando a criança estiver com 10 anos terei 41, quando ela for pra faculdade completarei 50 e até que esse filho possa parar de depender de mim para passar a prover minha velhice ainda vão uns 10 anos! Talvez eu não conheça os meus netos, principalmente se meu filho demorar para ter filho como eu, se ele/ela quiser ter um filho e ...
 Ok, calma aí! Quando foi que eu desejei ser mãe? Eu desejei mesmo? Ou enfiei na cabeça que aos 31 eu estaria com uma família formada? Pensando nisso mais profundamente me senti até um tanto egoísta, afinal pra que colocar mais crianças no mundo com tantas crianças sem mãe? Não é demagogia, foi só um repentino senso de economia e objetividade.
Ainda assim, pra essa empreitada o melhor seria ter um pai envolvido. O que nos faz voltar às perguntas sem resposta: Por que às vezes me sinto incompleta sem um companheiro? Como se a vida não fizesse sentido sozinha - eu sou legal sozinha! – Por que não posso gozar de minha própria companhia?
Bem, mas família e filhos não significam sucesso, certo? O que significa? Status? Comodidade? Carreira? Por que preciso ter dinheiro e posses para me sentir bem-sucedida na vida? Não basta fazer a cada minuto de todos os meus dias coisas que eu realmente amo fazer? Porque sim, eu tenho essa sorte!
Eu me mudei para um quartinho na cidade grande, luto pra pagar o aluguel mensalmente, me recuso a um trabalho triste, corporativo e sem esperanças, mas eu faço o que eu amo fazer. E são tantas coisas! Eu trabalho com arte e educação, duas coisas que precisam de muita dedicação e amor, porque não são produtivas, não fazem números, não dão lucro, não apresentam grandes resultados; só investem em pessoas.

Além disso eu me considero uma mulher bonita e inteligente; sozinha, porque afinal, a afetividade se extinguiu mesmo, mas ... contra todas as expectativas e regras sociais, depois de um dia insano de trabalhos, alguns até sem remuneração, volto pra casa num ônibus da madrugada ousadamente me sentindo feliz. 

Poema pra alguém que me achou fútil e virtual


Mas a culpa não é dele porque
Afinal quem realmente somos por trás de nossas fotos e frases de efeito?
Ainda assim gosto de me sentir tão diferente
Me enojo tanto com o que é assim tão superficial e virtual que
Ele fez brotar em mim uma sincera mancha negra de raiva
Porque ele mal sabe que tentar navegar na internet pra mim é uma lástima
Porque odeio não ver os olhos das pessoas, seus sorrisos e as palavras se formando em seus lábios
Odeio imaginar suas fotos perfeitas falando o que elas estão tentando escrever on line, muitas vezes com erros crassos de português sabendo que é inútil
Odeio me vender pelo face, insta, zap, tinder, once,
Enfim...vender assim não é comigo
Sou boa atriz, mas péssima vendedora
Porque eu sei fazer, eu sou de verdade, mas vou precisar que você me dê o benefício da dúvida pra começar
Não sou fotogênica, nem sei ser legal “on line”
Mas sei sorrir “on on”, sei discutir e argumentar, sei sentir
E mesmo assim...mesmo sendo assim mais do que isso que se parece comigo
Ainda assim há dias em que estar sozinha e ser forte cansa demais
Sou forte, feminista, umbandista, esquerdista, ativista, poetisa,
Mas às vezes sou fraca como se tivesse treze anos e ainda acreditasse no amor
Gosto de tomar sorvete direto no pote, cozinhar sozinha ouvindo música e bebendo vinho,
Só gosto de balada porque canto Cazuza ao amanhecer na rua com os amigos mais loucos e divertidos que alguém poderia ter
E eu tenho
Trabalho demais, grito demais, danço sozinha e falo sozinha e ponho a culpa no trabalho
Sou professora por convicção e atriz por paixão
Fiquei brava porque me acho diferente, mas em certo ponto, guri
Você até que tem razão
Sou humana igual
Fraca igual

E quero ser diferente como todo mundo
O Deus mais poderoso é o Tempo
E é também caprichoso
Senhor de todas as coisas, de todos os acontecimentos
Nada é páreo para o Tempo, nem a Morte, nem os Deuses
O Tempo às vezes dá ao homem um presente
Às vezes o Tempo diz que é Tempo de colher crianças dos ventres das mulheres
E este magnífico milagre é a única coisa que relativiza o Tempo
Quando se tem um filho
O Tempo cai pela metade e se multiplica por dois
Você não tem mais Tempo de viver por si
Vive apenas por tão adorada criatura
Desde o primeiro suspiro dela até o seu último
Isso se o Tempo quiser transcorrer normalmente ao lado da Morte
Não tem Tempo para banhar-se, comer, descansar
Mas mesmo assim fazes tudo isso, por si e pelo amado rebento
Não tem Tempo para ver-se envelhecer e ainda assim envelhece a cada dia
Pois cada dia seu oferece de bom grado
A seu filho amado
Sente que já fez tudo que necessitava nesta terra e está pronto para morrer
Mas mesmo assim
Quer ver amada criatura ter rebentos e mais rebentos
E a cada um, sua própria vida se multiplica na terra
Seu nome, seu sangue e sua alma estarão em suas crianças
Perpetuando-o exaustivamente, quase ao infinito
Mesmo que seu corpo não mais caminhe sobre a terra
Ter um filho é brincar com o Poderoso Tempo

E ser objeto de chacota Dele.

Quizzes

14/10/2015 16h

Hoje estava me sentindo cansada e perdida, como tenho me sentido sempre aliás, nos últimos 14 ou 15 meses, mas isso conto em outro momento, se é que haverá outro momento.
Enfim, sou tão má contista quanto sou má poetisa, isso dado eu dizia... estava me sentindo fatigada quando resolvi fazer aqueles testes virtuais estilo Capricho para me distrair de minha distração e preguiça lancinantes.
Claro que agora preciso dizer que tenho trinta anos, o que para alguns vai explicar a citação da Capricho e para muitos não diz nada. Capricho era uma revista teenager, prima rica da Atrevida, que liamos e discutíamos depois entre as garotas na sala de aula. Oh! Que jurássico! Mas sim, querido leitor, leitora, seja lá quem está perdendo seu tempo comigo, eu não tinha facebook, não tinha whatssap, cara! Eu não tinha internet! Eu sabia as coisas pela TV e me atualizava no mundo jovem pela revista Capricho e era isso que discutíamos em sala de aula, além, claro! Dos temas de “Atualidades” para as redações argumentativas e nas aulas de filosofia.
Nestas revistas sempre tinha um Teste sobre sua personalidade, seu futuro, seu namorado ou seus amigos. Era a parte mais divertida da revista e que durava muitas semanas de conversa na comparação entre seus resultados e das amigas, eu inclusive, era do tipo que refazia o teste milhares de vezes para comprovar o resultado, o que só tornava minha vida mais difícil, posto que eu não podia marcar a caneta na própria revista as respostas, pois isso poderia alterar uma futura tentativa.
 Então a coisa funcionava assim: você respondia a umas dez ou quinze perguntas com quatro alternativas cada, você precisava ter em mãos um bloquinho, caso a revista não fosse sua ou como eu, você esperava refazer os testes mais tarde, então marcava as alternativas no bloco. Dai vinha a contagem: as letras a valiam 3, as b, 2, as c 1 e as d 0, bem, dai você somava tudo e obtinha um resultado, então ia ate os textos finais onde averiguava em qual opção seu resultado se encaixava e lia, algo muito parecido com um zodíaco sabe? Nada realmente muito bom ou muito ruim, eram coisas tipo: de 0 a 20, você é uma amiga fiel, de 20 a 40, você é uma amiga companheira, porém corajosa (sim! Não é só na internet que há problemas de gramática!) de 40 a 60... e assim por diante.
Mas agora temos a internet, o facebook e tudo isso e eu, para me distrair, comecei a abrir vários testes deste estilo Capricho: Qual sua cor neste momento? Quão resistente você é? O que seus amigos dizem de você? Qual herói da Marvel você seria? Aliás, não chamam mais testes, são “Quiz”, e felizmente não preciso marcar no bloquinho ao lado as alternativas, basta ir clicando nas opções favoritas que no fim ele calcula a resposta sozinho! E se torna até mais divertido repetir o teste, pois, ao contrário da revista, você não pode ler os outros resultados se realmente não obtiver os outros resultados!
Mas, caríssimo leitor, a grande razão para escrever sobre tudo isso é que, quando eu preenchia os testes há mais de quinze anos, eu sabia qual opção marcar para perguntas como: Você é mais realista, otimista ou pessimista? Você se considera mais inteligente, criativa, dedicada, corajosa ou sincera?
Aos quinze eu era a Dori, otimista e com certeza dedicada, sincera, muito inteligente e criativa e com certeza corajosa! Não tinha medo de nada! Hoje ao responder, não me sentia sequer pessimista, como se eu não tivesse o direito de pensar maus agouros sobre os acontecimentos da vida, fatalmente não podia marcar otimista, afinal, não vejo nenhuma possibilidade iminente de melhora em quaisquer das áreas de minha vida, e seria mentira dizer que sou realista, pois creio mesmo não estar conseguindo há muito tempo distinguir a realidade, da verdade e ambas da necessidade, creio mesmo que vivo alucinada, num mundo de alucinados.
Não creio me mais inteligente ou criativa, nada do que tenho feito demonstra tais qualidades, na verdade quase não tenho feito nada, o que com certeza prova que não sou dedicada como imaginava.
Quando eu estava trabalhando -  ah é!, estou desempregada. Uma informação importante para que você não me julgue uma funcionária relapsa no meio do expediente de uma quarta feira resolvendo testes, ops, perdão! Quizes (esse plural existe?) -  eu era dedicada! Dedicada aos meus alunos, a acrescentar a eles o máximo de capacidades possíveis para crescerem, eu parecia muito dedicada, para onde foi toda essa dedicação? Parece que nada mais vale a minha dedicação daquela maneira... Sincera? Ah eu sou muito grossa isso sim! Mas preciso confessar que já menti, para mim mesma várias vezes, por medo inclusive, o que nos leva a ter a certeza de que coragem me falta em tudo!

Sabe, quando eu não tinha internet, era uma época em que eu tinha possibilidades! Eu poderia me tornar o que quisesse, eu tinha qualidades e ainda podia contar com as surpresas da vida... maldita internet! 

Anjos Caídos

Anjos caídos
Foram maculados com a lama da terra imunda
Anjos de Amor,
Estupradas,
Em cada abraço dela uma mordida arranca um pedaço de suas asas
O abraço é de carinho, de Amor desinteressado
O Homem arregaça os dentes, baba fétida saliva gozosa
O Anjo brinca de colorir, sublima sua dor
Não se lembra mais anjo
Mas perdida, não sabe como retratar o mundo que vê
Sem cores suficientes na caixa de giz de cera
Anjo Sublime de Alegria
Por suas mãos as melodias mais divinas
Suavemente suas asas roçam nos instrumentos
A melodia obedece calorosa e doce
Violão, viola, flauta, pandeiro e piano
Onde aprendeu anjo?
Anjo? Não sou, não sei, só me sentei e toquei
Tirei destas ferramentas humanas
Arte, ardor, emoção, sensação
Não se lembra Anjo, o menino
Lembra apenas que a dor dói
E para aliviar há todo o tipo de drogas que o homem inventou
Já não se lembra do céu, nem do paraíso
Mas sua alma delicada não suporta existir sem ópio
Anjos maculados
Os homens lhes rebaixam
Porque não sabem conviver com o divino.


Eu não quero ser um rinoceronte

Ai eu
Eu empedrada, asfaltada, a pele se tornando cinza pétreo, chumbo
Sob as luzes verdes dos canhões
Eu crescida e acrescida do pretérito imperfeito do verbo
Eu não mais menina mas sem vir a ser nada

Ai eu não
Não mais esposa, não nunca mãe, não artista
Não vitrine, não fetiche do produto, não consumo
Arte, morte, traição no jardim da própria arte, quero o forte, o mais do que simbólico o que ultrapassa a tecnica
Gritos, cantos desafinos desentoados, urros, sussurros, bramidos
Mugidos de vaca esteril, vitima traida, assassina de si mesma
Torturante, torturado todo o dia
Normal
Normal
Normal
Ai eu não quero
Não quero celular, sapatos, bolsas, maquiagem, carreira, não comprar ou vender minha alma a alma de ninguem
Não quero engolir angustia mastigada com concreto, chocolate derretido, batida em clara em neve
A pele estica, infla, elefantiza quando digere angústia com gordura trans
Menos mulher, mais bicho
Ninguem vai olhar pra mim, ninguem vai me querer, nem como bocho, nem como objeto
Quero ser mais do que a mediocridade do romantismo, sensualismo, sexualismo

Faço pequenas maldades, escondido
Sorrio da dor do outro
Mas me pisoteiam todo o dia, arrancando meus ossos pela raiz, atravez da pele, perfurando a alma
Quero pisotear um pouquinho em quem debanda sobre mim
Eu não quero ser um
Unu
Única, nenhum, sombra, sem passado, presente ou futuro... eu naoq uero esquecer
Não quero esquecer que sou muitos, muitas todas, sou as tradições, os cultos e as religioes, sou o sexo e o suor de gerações.. eu não quero esquecer
Sou muitas
Eu não quero ser um rinoceronte
Eu não quero ser um rinoceronte nem vitima, nem algoz
Eu não quero ser rinoceronte

 

quinta-feira, 16 de março de 2017

Ode ao Amor Impossível


I
Por muitos anos desconheci essa palavra
Não existia em meu dicionário
Não era formalizada por minha língua
Havendo vontade tudo se dá
Por isso remei sempre contra a maré
Contra os ventos e apesar das tempestades
Afinal sou filha de yabá Senhora do Mar
Escolhi a profissão mais cruel
O ofício mais ingrato
Os caminhos mais tortos
Mas sempre
Sempre, senhores!
Os mais felizes
A dificuldade nunca me conteve,
Ao contrário
 Me impulsionava para o desconhecido!
Me dava ímpetos de galhardia
E tudo assim conquistado era infinitamente doce
Ambrosia dos deuses
Mas
Há algo enfim que não posso disputar
Pelo qual não devo lutar
Posto que a mim não cabe
E a quem poderia caber
Impossível é agora, deixar de cumprir
Sua hercúlea missão
Precisa ele de coragem para tocar o intangível
Deixando me para trás

Impossível!
 Finalmente te alcancei e a ti devo curvar-me
Senhor impiedoso, irmão da Morte e do Tempo, o Impossível.

II

Ah Afrodite! Maldita seja!
Quer substituir Psiquê em seus castigos?
Porque se diverte tanto comigo deusa?
Sabes, deusa, como sou especial,
Sabes que eu sou a personificação das preces dele,
É ele, então, que castigas enfurecida, deusa?
Como fez a Hipólito?
Ah!
Meu querido Hipólito... Cuidado!
 Governa tua carruagem,
pois a deusa trama contra sua vida...
Separo-me de ti agora,
Apesar de ser exatamente do tamanho do seu sonho.
Somos mais do que almas gêmeas,
Mais do que almas nascidas sob o mesmo signo
Somos feitos da mesma matéria!
Do mesmo mar de imensidão, revolto e infinito,
Do mesmo fogo eternamente aceso,
Do mesmo vento furacão.
Sou feita de amor! Como você!
Sou do tamanho do seu sonho!
E tenho asco, nojo, de tudo que é morno,
Até a palavra “morno” me amedronta!
Ah! Quisera eu salvar-te do morno!
E jogar-te em meus lençóis quentes
E banhar-me contigo em chuvas torrenciais e gélidas
Afinal, toda a vez que chover sentirei sede de você,
Toda vez que chover vou olhar pela janela
Na esperança de ver se a chuva doce finalmente te trouxe....

III

Milhões de palavras fazem zumbido em meu ouvido
Queria te dar todas elas
Sonhos me acometem durante a noite
Queria te contar todos eles
Meu sexo arde simplesmente
E queria que apenas a você coubesse acalmá-lo
Quisera te entregar meus desejos,
Toda a minha paixão e intensidade
Todo o meu corpo, saliva e órgãos
Quisera te dar Sophias
E entre teus braços fazer meu ninho
Em teu regaço poder ser frágil
Achei ter encontrado meu porto seguro
Onde poderia atracar
Onde por algumas horas poderia não ser Jasão
Onde pudesse descansar de serpentes marinhas, harpias, leões
Mas foste tirado de mim
Pelos deuses e pelos homens
E pelo Sagrado Sacramento

IV

Quanta crueldade!
É a primeira vez que saio
De um maravilhoso sexo, sexo de unir suor, gozo e lágrimas!
Com tanta tristeza na alma!
Quisera eu posar nua pra ti
Para que reencontrasse o artista dentro de você
Quisera eu levar-te a peças de teatro
Danças de salão
Quisera eu dar-lhe de beber toda arte que tenho
Apenas para não lhe dizer adeus
Adeus
Palavra amarga
Amargando o fim dessa ode
Foram os melhores momentos
Como bem disses
Sou seu melhor presente
Tu também és o meu
Porque te amo
Te direi adeus e sejas feliz!
Sejas feliz! É uma ordem!
Senão será inútil tê-lo deixado
Queria gritar: Fica comigo!
Comigo se completa e se ama
Comigo é lua, mar e infinito
Comigo pode tudo!
Quisera eu gritar: seja bravo! Seja valente!
Lute pela felicidade quente
Profunda, divina do agora!
Lute homem!
Mas não posso, posto que te amo
Tenta então! Tenta com tudo que tens
Avante!
Rogo que seja feliz!
Amor à primeira vista, amor altruísta, amor sem igual
Cruel és, enfim! Amor!
De nada vale, se deixo ir com o vento a coisa amada
Adeus...
E no vento planto palavras que se esvaecem...
Adeus...
E para o luar choro derradeiras lágrimas que ninguém ouve
Adeus...
Parou na minha esquina... sonho doce tivesse desistido de partir...
Adeus...
Seguiu em frente sem olhar pra trás como devia mesmo ser
Adeus amor
Adeus artista
Adeus poeta
Adeus vinho doce e gozos ardentes
Adeus.