Parece
dramático demais, mas bem, sou assim mesmo, meio dramática e bipolar, com a
licença poética da palavra. Fiz 31 anos e não é possível chegar a essa idade
sem pensar no que estamos fazendo da vida. Foi então que comecei a me deparar
com uma enorme crise, que até pode justificar a sensação de bipolaridade:
indivíduo x sociedade.
Afinal,
comecei a enumerar tudo o que tenho e sou para tentar descobrir se eu poderia
me considerar uma pessoa de sucesso, mas a tarefa foi tomando tamanha dimensão
que não sabia mais separar aquilo que eu desejava pra mim, daquilo que a
sociedade almejava pra mim: mulher, classe média, ensino superior completo, aos
31 anos.
Eu
não sou mãe. Eu não tenho um relacionamento sério no status do Facebook, nem
fora dele. Não tenho emprego estável. Não tenho nenhum projeto promissor. Mestrado?
Não, obrigada.
Comecei
a me sentir a síntese do fracasso.
Como
pode, uma mulher com 31 anos, não ser mãe? E pior! Essa é uma decisão que tem
prazo de validade, pelo menos para nós mulheres, não é o tipo de coisa que
possamos adiar pra sempre, os ovários estão conosco há anos e envelhecendo
junto com o rosto, antes tão lisinho e agora com seus terríveis pés de galinha,
e mesmo que você não tenha pés de galinha, os ovários envelhecem com o
calendário, não tem jeito e não dá pra por botox no ovário... Se eu ficar
grávida agora, de forma independente, quando a criança estiver com 10 anos
terei 41, quando ela for pra faculdade completarei 50 e até que esse filho
possa parar de depender de mim para passar a prover minha velhice ainda vão uns
10 anos! Talvez eu não conheça os meus netos, principalmente se meu filho
demorar para ter filho como eu, se ele/ela quiser ter um filho e ...
Ok, calma aí! Quando foi que eu desejei ser
mãe? Eu desejei mesmo? Ou enfiei na cabeça que aos 31 eu estaria com uma
família formada? Pensando nisso mais profundamente me senti até um tanto
egoísta, afinal pra que colocar mais crianças no mundo com tantas crianças sem
mãe? Não é demagogia, foi só um repentino senso de economia e objetividade.
Ainda
assim, pra essa empreitada o melhor seria ter um pai envolvido. O que nos faz
voltar às perguntas sem resposta: Por que às vezes me sinto incompleta sem um
companheiro? Como se a vida não fizesse sentido sozinha - eu sou legal sozinha!
– Por que não posso gozar de minha própria companhia?
Bem,
mas família e filhos não significam sucesso, certo? O que significa? Status?
Comodidade? Carreira? Por que preciso ter dinheiro e posses para me sentir bem-sucedida
na vida? Não basta fazer a cada minuto de todos os meus dias coisas que eu
realmente amo fazer? Porque sim, eu tenho essa sorte!
Eu
me mudei para um quartinho na cidade grande, luto pra pagar o aluguel
mensalmente, me recuso a um trabalho triste, corporativo e sem esperanças, mas
eu faço o que eu amo fazer. E são tantas coisas! Eu trabalho com arte e
educação, duas coisas que precisam de muita dedicação e amor, porque não são
produtivas, não fazem números, não dão lucro, não apresentam grandes
resultados; só investem em pessoas.
Além
disso eu me considero uma mulher bonita e inteligente; sozinha, porque afinal,
a afetividade se extinguiu mesmo, mas ... contra todas as expectativas e regras
sociais, depois de um dia insano de trabalhos, alguns até sem remuneração,
volto pra casa num ônibus da madrugada ousadamente me sentindo feliz.
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