Amigo

Amigo

Se você tem esse endereço eletrônico é porque é mais do que bem vindo

Com certeza você me ensinou a escrever

me ensinou a apreciar a boa literatura, a filosoia e a canção

participou de meus primeiros rabiscos

valorizou minha alma vertida em palavras

certamente você esteve presente em momentos importantes

poéticos ou frustrantes, pacificos ou revolucionários

provavelmente já escreveu comigo ou ao meu lado

já leu alguma coisa minha e me pediu mais

ja me incentivou e ja me corrigiu

você já fez sarau, caretas, fofocas e confidencias comigo

e eu já te amei ou ainda te amo

e você sabe que nossa distancia não é nada

e você sabe que odeio computador

e você sabe que nunca publiquei e que não creio que o acesso a internet me faça poeta

você sabe que não tenho um grande valor literário

mas que valorizo a literatura

você sabe que um dia gostei que você me leu

e que quero ler você

você sabe que escrevo por necessidade, porque faz parte de mim

e que me envergonho de ter me distanciado tanto disso

você sabe que não tenho estilo

só paixão

Você sabe que você cabe em cada uma das palavras anteriores

Prazer em recebê-lo.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Ontem ultrapassei definitivamente a linha da juventude.



Parece dramático demais, mas bem, sou assim mesmo, meio dramática e bipolar, com a licença poética da palavra. Fiz 31 anos e não é possível chegar a essa idade sem pensar no que estamos fazendo da vida. Foi então que comecei a me deparar com uma enorme crise, que até pode justificar a sensação de bipolaridade: indivíduo x sociedade.
Afinal, comecei a enumerar tudo o que tenho e sou para tentar descobrir se eu poderia me considerar uma pessoa de sucesso, mas a tarefa foi tomando tamanha dimensão que não sabia mais separar aquilo que eu desejava pra mim, daquilo que a sociedade almejava pra mim: mulher, classe média, ensino superior completo, aos 31 anos.
Eu não sou mãe. Eu não tenho um relacionamento sério no status do Facebook, nem fora dele. Não tenho emprego estável. Não tenho nenhum projeto promissor. Mestrado? Não, obrigada.
Comecei a me sentir a síntese do fracasso.
Como pode, uma mulher com 31 anos, não ser mãe? E pior! Essa é uma decisão que tem prazo de validade, pelo menos para nós mulheres, não é o tipo de coisa que possamos adiar pra sempre, os ovários estão conosco há anos e envelhecendo junto com o rosto, antes tão lisinho e agora com seus terríveis pés de galinha, e mesmo que você não tenha pés de galinha, os ovários envelhecem com o calendário, não tem jeito e não dá pra por botox no ovário... Se eu ficar grávida agora, de forma independente, quando a criança estiver com 10 anos terei 41, quando ela for pra faculdade completarei 50 e até que esse filho possa parar de depender de mim para passar a prover minha velhice ainda vão uns 10 anos! Talvez eu não conheça os meus netos, principalmente se meu filho demorar para ter filho como eu, se ele/ela quiser ter um filho e ...
 Ok, calma aí! Quando foi que eu desejei ser mãe? Eu desejei mesmo? Ou enfiei na cabeça que aos 31 eu estaria com uma família formada? Pensando nisso mais profundamente me senti até um tanto egoísta, afinal pra que colocar mais crianças no mundo com tantas crianças sem mãe? Não é demagogia, foi só um repentino senso de economia e objetividade.
Ainda assim, pra essa empreitada o melhor seria ter um pai envolvido. O que nos faz voltar às perguntas sem resposta: Por que às vezes me sinto incompleta sem um companheiro? Como se a vida não fizesse sentido sozinha - eu sou legal sozinha! – Por que não posso gozar de minha própria companhia?
Bem, mas família e filhos não significam sucesso, certo? O que significa? Status? Comodidade? Carreira? Por que preciso ter dinheiro e posses para me sentir bem-sucedida na vida? Não basta fazer a cada minuto de todos os meus dias coisas que eu realmente amo fazer? Porque sim, eu tenho essa sorte!
Eu me mudei para um quartinho na cidade grande, luto pra pagar o aluguel mensalmente, me recuso a um trabalho triste, corporativo e sem esperanças, mas eu faço o que eu amo fazer. E são tantas coisas! Eu trabalho com arte e educação, duas coisas que precisam de muita dedicação e amor, porque não são produtivas, não fazem números, não dão lucro, não apresentam grandes resultados; só investem em pessoas.

Além disso eu me considero uma mulher bonita e inteligente; sozinha, porque afinal, a afetividade se extinguiu mesmo, mas ... contra todas as expectativas e regras sociais, depois de um dia insano de trabalhos, alguns até sem remuneração, volto pra casa num ônibus da madrugada ousadamente me sentindo feliz. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário