14/10/2015 16h
Hoje estava me sentindo cansada e
perdida, como tenho me sentido sempre aliás, nos últimos 14 ou 15 meses, mas
isso conto em outro momento, se é que haverá outro momento.
Enfim, sou tão má contista quanto
sou má poetisa, isso dado eu dizia... estava me sentindo fatigada quando
resolvi fazer aqueles testes virtuais estilo Capricho para me distrair de minha
distração e preguiça lancinantes.
Claro que agora preciso dizer que
tenho trinta anos, o que para alguns vai explicar a citação da Capricho e para
muitos não diz nada. Capricho era uma revista teenager, prima rica da Atrevida,
que liamos e discutíamos depois entre as garotas na sala de aula. Oh! Que
jurássico! Mas sim, querido leitor, leitora, seja lá quem está perdendo seu
tempo comigo, eu não tinha facebook, não tinha whatssap, cara! Eu não tinha
internet! Eu sabia as coisas pela TV e me atualizava no mundo jovem pela
revista Capricho e era isso que discutíamos em sala de aula, além, claro! Dos
temas de “Atualidades” para as redações argumentativas e nas aulas de
filosofia.
Nestas revistas sempre tinha um
Teste sobre sua personalidade, seu futuro, seu namorado ou seus amigos. Era a
parte mais divertida da revista e que durava muitas semanas de conversa na
comparação entre seus resultados e das amigas, eu inclusive, era do tipo que
refazia o teste milhares de vezes para comprovar o resultado, o que só tornava
minha vida mais difícil, posto que eu não podia marcar a caneta na própria
revista as respostas, pois isso poderia alterar uma futura tentativa.
Então a coisa funcionava assim: você respondia
a umas dez ou quinze perguntas com quatro alternativas cada, você precisava ter
em mãos um bloquinho, caso a revista não fosse sua ou como eu, você esperava
refazer os testes mais tarde, então marcava as alternativas no bloco. Dai vinha
a contagem: as letras a valiam 3, as b, 2, as c 1 e as d 0, bem, dai você
somava tudo e obtinha um resultado, então ia ate os textos finais onde
averiguava em qual opção seu resultado se encaixava e lia, algo muito parecido
com um zodíaco sabe? Nada realmente muito bom ou muito ruim, eram coisas tipo:
de 0 a 20, você é uma amiga fiel, de 20 a 40, você é uma amiga companheira,
porém corajosa (sim! Não é só na internet que há problemas de gramática!) de 40
a 60... e assim por diante.
Mas agora temos a internet, o
facebook e tudo isso e eu, para me distrair, comecei a abrir vários testes
deste estilo Capricho: Qual sua cor neste momento? Quão resistente você é? O
que seus amigos dizem de você? Qual herói da Marvel você seria? Aliás, não
chamam mais testes, são “Quiz”, e felizmente não preciso marcar no bloquinho ao
lado as alternativas, basta ir clicando nas opções favoritas que no fim ele
calcula a resposta sozinho! E se torna até mais divertido repetir o teste,
pois, ao contrário da revista, você não pode ler os outros resultados se
realmente não obtiver os outros resultados!
Mas, caríssimo leitor, a grande
razão para escrever sobre tudo isso é que, quando eu preenchia os testes há
mais de quinze anos, eu sabia qual opção marcar para perguntas como: Você é
mais realista, otimista ou pessimista? Você se considera mais inteligente,
criativa, dedicada, corajosa ou sincera?
Aos quinze eu era a Dori,
otimista e com certeza dedicada, sincera, muito inteligente e criativa e com
certeza corajosa! Não tinha medo de nada! Hoje ao responder, não me sentia
sequer pessimista, como se eu não tivesse o direito de pensar maus agouros
sobre os acontecimentos da vida, fatalmente não podia marcar otimista, afinal,
não vejo nenhuma possibilidade iminente de melhora em quaisquer das áreas de
minha vida, e seria mentira dizer que sou realista, pois creio mesmo não estar
conseguindo há muito tempo distinguir a realidade, da verdade e ambas da
necessidade, creio mesmo que vivo alucinada, num mundo de alucinados.
Não creio me mais inteligente ou
criativa, nada do que tenho feito demonstra tais qualidades, na verdade quase
não tenho feito nada, o que com certeza prova que não sou dedicada como
imaginava.
Quando eu estava trabalhando
- ah é!, estou desempregada. Uma
informação importante para que você não me julgue uma funcionária relapsa no
meio do expediente de uma quarta feira resolvendo testes, ops, perdão! Quizes
(esse plural existe?) - eu era dedicada!
Dedicada aos meus alunos, a acrescentar a eles o máximo de capacidades
possíveis para crescerem, eu parecia muito dedicada, para onde foi toda essa
dedicação? Parece que nada mais vale a minha dedicação daquela maneira...
Sincera? Ah eu sou muito grossa isso sim! Mas preciso confessar que já menti,
para mim mesma várias vezes, por medo inclusive, o que nos leva a ter a certeza
de que coragem me falta em tudo!
Sabe, quando eu não tinha
internet, era uma época em que eu tinha possibilidades! Eu poderia me tornar o
que quisesse, eu tinha qualidades e ainda podia contar com as surpresas da
vida... maldita internet!
Nenhum comentário:
Postar um comentário