Subitamente arrebatada por aquela melancolia

No meio da noite

 A alma forjou pesadelos de abandono

A manhã muito quente

Tudo um pouco fora do lugar

O que é isso?

Fruto de uma educação fantasiosa?

Muitas historias de princesas com

“viveram felizes para sempre”?

Para me sentir uma mulher digna e respeitável

Devo ter um cuidador?

Um marido? Um pai?

Porque a sensação de integridade e

 inteireza é tão difícil para uma mulher só?

Porque, nós mulheres, ou estamos com alguém

Mesmo que nos desrespeite, nos maltrate, nos humilhe, nos bata?

Ou estamos em busca de um alguém?

Ou ainda estamos em busca de nos tornar perfeitas

Intelectual, psicológica, econômica e fisicamente?

Perfeitas para quem?

Mas quase não se encontra uma mulher sozinha

Que esteja plena e queira continuar assim.

Parece que a melancolia vem de um desejo estúpido de ser especial

Especial em todas as suas possibilidades

Ser a única rosa de seu planeta e ter um príncipe para cuidar-me

Ser a joia mais cara que se pode ter nessa vida

Aquela guardada no cofre e exibida com orgulho em ocasiões especiais

Ser a rainha de um servo fiel

Que vive apenas para agrada-la, mima-la, cuida-la

Ser a progenitora da sua semente, forte, fecunda

E assim tornar-me sua deusa

Porque tantos desejos de dependência?

A rosa não tem suas raízes, pétalas, espinhos?

A joia não tem igual valor independente de seu dono?

A rainha não tem milhares de serviçais? E para com eles também seus deveres de proteção?

A experiência da maternidade não é em si um milagre para ser vivido intensamente

Pelo seu corpo, pelo seu útero, pelos seus seios, pela sua própria alma?

Não se torna divina diante da própria natureza quando gera vida?

Porque tanta melancolia em não ser o alvo único de todos os dardos de um único homem?

Porque não almejamos ser estrelas?

Que brilham independentes de outros astros

E que brilham no firmamento para todos

Sem por isso serem menos dignas ou menos respeitadas.

Uma estrela não tem ciúmes da outra porque ambas brilham para o mundo

Ah que peso advem dessa formação social!

Tire o seu machismo de mim!

Tire suas princesas da Disney de mim!

Tire sua solidão e insegurança de mim!

Deixa-me abortar essa dependência mal formada!

Limpar minhas entranhas desse feto natimorto

Dessas mentiras sobre fragilidade e sucesso

Igualdade e soberania

Quero ser simplesmente humana.

(homenagem a Camila Pagu e ao texto de Diego Gonzalez)