I
Por muitos anos
desconheci essa palavra
Não existia em meu
dicionário
Não era formalizada
por minha língua
Havendo vontade tudo
se dá
Por isso remei sempre
contra a maré
Contra os ventos e
apesar das tempestades
Afinal sou filha de
yabá Senhora do Mar
Escolhi a profissão
mais cruel
O ofício mais ingrato
Os caminhos mais
tortos
Mas sempre
Sempre, senhores!
Os mais felizes
A dificuldade nunca
me conteve,
Ao contrário
Me impulsionava para o desconhecido!
Me dava ímpetos de
galhardia
E tudo assim
conquistado era infinitamente doce
Ambrosia dos deuses
Mas
Há algo enfim que não
posso disputar
Pelo qual não devo
lutar
Posto que a mim não
cabe
E a quem poderia
caber
Impossível é agora,
deixar de cumprir
Sua hercúlea missão
Precisa ele de coragem
para tocar o intangível
Deixando me para trás
Impossível!
Finalmente te alcancei e a ti devo curvar-me
Senhor impiedoso,
irmão da Morte e do Tempo, o Impossível.
II
Ah Afrodite! Maldita
seja!
Quer substituir Psiquê
em seus castigos?
Porque se diverte
tanto comigo deusa?
Sabes, deusa, como
sou especial,
Sabes que eu sou a
personificação das preces dele,
É ele, então, que
castigas enfurecida, deusa?
Como fez a Hipólito?
Ah!
Meu querido
Hipólito... Cuidado!
Governa tua carruagem,
pois a deusa trama
contra sua vida...
Separo-me de ti
agora,
Apesar de ser
exatamente do tamanho do seu sonho.
Somos mais do que
almas gêmeas,
Mais do que almas
nascidas sob o mesmo signo
Somos feitos da mesma
matéria!
Do mesmo mar de imensidão,
revolto e infinito,
Do mesmo fogo
eternamente aceso,
Do mesmo vento furacão.
Sou feita de amor! Como
você!
Sou do tamanho do seu
sonho!
E tenho asco, nojo,
de tudo que é morno,
Até a palavra “morno”
me amedronta!
Ah! Quisera eu
salvar-te do morno!
E jogar-te em meus
lençóis quentes
E banhar-me contigo
em chuvas torrenciais e gélidas
Afinal, toda a vez
que chover sentirei sede de você,
Toda vez que chover
vou olhar pela janela
Na esperança de ver
se a chuva doce finalmente te trouxe....
III
Milhões de palavras
fazem zumbido em meu ouvido
Queria te dar todas
elas
Sonhos me acometem
durante a noite
Queria te contar
todos eles
Meu sexo arde simplesmente
E queria que apenas a
você coubesse acalmá-lo
Quisera te entregar
meus desejos,
Toda a minha paixão e
intensidade
Todo o meu corpo,
saliva e órgãos
Quisera te dar Sophias
E entre teus braços
fazer meu ninho
Em teu regaço poder
ser frágil
Achei ter encontrado
meu porto seguro
Onde poderia atracar
Onde por algumas
horas poderia não ser Jasão
Onde pudesse descansar
de serpentes marinhas, harpias, leões
Mas foste tirado de
mim
Pelos deuses e pelos
homens
E pelo Sagrado
Sacramento
IV
Quanta crueldade!
É a primeira vez que
saio
De um maravilhoso
sexo, sexo de unir suor, gozo e lágrimas!
Com tanta tristeza na
alma!
Quisera eu posar nua
pra ti
Para que
reencontrasse o artista dentro de você
Quisera eu levar-te a
peças de teatro
Danças de salão
Quisera eu dar-lhe de
beber toda arte que tenho
Apenas para não lhe
dizer adeus
Adeus
Palavra amarga
Amargando o fim dessa
ode
Foram os melhores
momentos
Como bem disses
Sou seu melhor
presente
Tu também és o meu
Porque te amo
Te direi adeus e
sejas feliz!
Sejas feliz! É uma
ordem!
Senão será inútil tê-lo
deixado
Queria gritar: Fica
comigo!
Comigo se completa e
se ama
Comigo é lua, mar e
infinito
Comigo pode tudo!
Quisera eu gritar:
seja bravo! Seja valente!
Lute pela felicidade
quente
Profunda, divina do
agora!
Lute homem!
Mas não posso, posto
que te amo
Tenta então! Tenta
com tudo que tens
Avante!
Rogo que seja feliz!
Amor à primeira
vista, amor altruísta, amor sem igual
Cruel és, enfim!
Amor!
De nada vale, se
deixo ir com o vento a coisa amada
Adeus...
E no vento planto
palavras que se esvaecem...
Adeus...
E para o luar choro
derradeiras lágrimas que ninguém ouve
Adeus...
Parou na minha
esquina... sonho doce tivesse desistido de partir...
Adeus...
Seguiu em frente sem
olhar pra trás como devia mesmo ser
Adeus amor
Adeus artista
Adeus poeta
Adeus vinho doce e
gozos ardentes
Adeus.