“Bolsa estourada é coisa de filme. E nada de correria na
primeira contração. O trabalho de parto do primeiro filho costuma durar mais de
10 horas”
Com essas informações que tanto estudei, em mente, eu olhava
incrédula a água escorrer por minhas pernas, sem parar, sujando o chão do
corredor da escola.
Funcionários, professores colegas e a diretora aos poucos
foram colocando as cabeças pelas portas e olhando pro corredor, onde eu chorava
de soluçar de tanta felicidade. Era chegada a hora! A hora mais importante da
minha vida. Hora de conhecer minha princesa.
Mandei mensagem pra doula extraoficial (te amo prima Mi) e
veio a orientação "hum, bolsa rota, prematura, corre pro hospital! E você
já deve ficar por lá"
“Ué, mas bolsa estourada e correria pro hospital não era
coisa de filme?!”
Tá bem, minha rainha quer estrear!
Pra ela tudo do bom e do melhor!
Esperamos o papai e fomos pro hospital!
Logo na chegada fomos recepcionados por um casal de funcionários,
controladores de acesso, muito bem preparados. Que nos tranquilizaram,
mostraram a sala ampla, limpa e iluminada de espera e foram avisar as
enfermeiras que uma mãe com bolsa estourada aguardava.
A equipe de enfermagem chamou em seguida e já fez todos os
exames iniciais. Sempre com a presença de papai. Só depois papai se separou um pouquinho de nós
pra abrir a ficha na recepção com nossos documentos.
Depois dos exames vitais iniciais, em 10 minutos uma equipe
médica de 3 nos avaliava e examinava.
Nos explicou tudo sobre o exame feito, sobre as condições da
bolsa e do trabalho de parto e sobre a indução, que seria necessária porque eu
havia perdido bastante líquido e estava com pouca dilatação. Mas tudo estava
bem. Realmente, eu não voltaria pra casa para aguardar... passaria todas as
próximas horas sendo monitorada de pertinho... Ouvindo o coração de Angelina e
monitorando contrações e dilatação.
Conversamos sobre plano de parto... já que não tínhamos tido
tempo de escrever um...
Então a equipe de enfermeiras nos ajudou a fazer um naquele
momento... conversamos e tiramos dúvidas sobre tudo: a preferência pelo parto natural,
o medo do picote, do uso de fórceps, pontos mesmo no parto normal, uso de
analgesia, que também causava grande medo na mamãe... enfim... tudo! E cada
escolha foi registrada na ficha.
Nessa hora minha sogra chegou. Não tínhamos direito a mais
de um acompanhante, e o papai já estava conosco, mas o casal de funcionários ali
na frente foi muito gentil e abriu a porta para minha sogra acenar de longe. Só
que as enfermeiras então permitiram que ela entrasse para um abraço e também
para uma rápida oração. Tudo muito emocionante pra mim.
Fomos pra uma sala de luz baixa e azulada, onde monitoramos pela
primeira vez o coração da neném, uma enfermeira muito doce conversava comigo e
Angelina na barriga e tirava todas as nossas dúvidas. Dessa vez, papai ficou pra
fora, porque mais duas mães estavam no monitoramento. Ouvíamos juntas os
corações dos nossos bebes e trocávamos comentários exultantes.
Em seguida fomos internados e fomos para a sala de indução,
sempre junto como papai.
Lá ganhamos uma enfermeira toda nossa, a Beth, bem
pequenina, mas com uma postura de general. Apesar disso, muito doce e
atenciosa.
Soube ali que tínhamos disponível uma sala de aromaterapia e
cromoterapia. E um banheiro com chuveiro quentinho pra quando a dor apertasse.
Minha colega de quarto e seu marido faziam uso do chuveiro.
Ela já estava gritando bastante, em processo bem mais
avançado que o meu e queria muito o parto normal.
Então a nossa querida enfermeira chamou para ela uma doula. Sim!
O hospital tinha uma equipe de doulas.
A senhora de avental rosa passou a aplicar diversas
técnicas, massagens, exercícios e alongamentos. E fui avisada: quando eu
começasse a sentir mais dores, poderia ter uma doula pra mim também.
Fiquei muito surpresa com essa opção do hospital, coisa de
primeiro mundo! Fiquei muito feliz com a nossa escolha de plano.
Caminha, caminha, caminha... bebe água... papai caminha com
a gente... vai e volta, vai e volta no corredor infinito, mas bem
pequenininho....rs.... Mais um comprimido, mais umas caminhadas. Monitoramento
do coraçãozinho...
Eita exame safado! Ele deu “erro” 2 x, a enfermeira repetiu
e repetiu o exame... e explicou e explicou com carinho que estava tudo bem...
mas o tal “erro” deixou a mamãe nervosa e quisemos falar com o médico.
O médico jovial nos perguntou: “eu tô com cara de
preocupado?” rsrs... ele explicou mais uma vez, que estava tudo bem e que
Angelina não corria risco. Só que o exame era muito sensível e podia perder o
batimento do neném de vez em quando, ao mínimo movimento ... no entanto nas repetições
do exame, tudo estava ótimo.
Me desculpei com ele e com a enfermeira Beth e seguimos...
Mas daí não precisamos do terceiro comprimido. Chegamos em 7 cm! Beth
emocionada me dizia: “Estou tocando a cabecinha da Angelina! Vamos pra sala de
parto... ela vai chegar!”
Assim que Beth saiu para preparar a sala de parto, a
cabecinha encaixou e a neném desceu... senti uma vontade incontrolável de
empurrar! E agora sim, a dor chegou! rs
Então, apesar da dor, vivi a cena mais linda naquela
maternidade: Apoiada pelo papai, sai da sala de indução e logo vi a porta da
sala de parto, em frente da qual, a Paty nos esperava, mãos abertas em minha
direção, sorriso de orelha a orelha e olhos verdes brilhantes. As mãos postas
me esperavam dar meus passinhos doloridos, como uma mãe incentivando os
primeiros passos da sua cria. Eram meus primeiros passos como mamãe mesmo! E eu
chegaria radiante a apertar as mãos da Paty.
Enfim, perto da meia noite, chegamos no trabalho
expulsivo... foi lindo...foi incrível...foi gentil... foi com amor... foi bem
rápido...
Na sala de parto papai foi autorizado a tirar nossas fotos,
tinha mais 3 pessoas conosco. Enfermeiras lindas, sorridentes e competentes.
Tudo era feito para que eu ficasse bem e sem susto apesar
das dores mais fortes da minha vida. Me trouxeram uma bola para alongamento,
que detestei, trouxeram um cavalo para apoiar com a pelve aberta, que não quis
nem experimentar, me incentivaram a encontrar a melhor posição... testamos
cócoras, deitada de lado e por fim, me ajudaram a ficar como que ajoelhada de
costas na maca. A Paty sorria e avisava que a princesinha já estava coroando.
Pedi analgésicos e com muita tranquilidade Beth me contou que eles não
ajudariam mais em nada.... rs...
Ju segurou minha mão e respeitosamente me explicou " se
você fizer força na hora que dá vontade de gritar, transformar o grito em
força, você vai ver como será rápido"
Foi mesmo Ju! Três empurrões e ouvi o gritinho mais lindo do
universo.
A Paty avisou: “me ajudem a entrega lá por entre as pernas
da mamãe porque o cordão é curto” Me entregaram meu pacotinho de amor por
debaixo das minhas pernas, entre meus joelhos... dois olhos muito abertos, como
estrelinhas, me olhavam... já quietinha...
Peguei minha rainha, me virei na maca e a coloquei no peito.
Ela imediatamente agarrou meu dedo e em seguida me disseram... “da mama mamãe”...
Eu dei... e ela sugou lindamente...
A equipe limpou um pouco o entorno, o papai veio dar beijos,
só então a Paty o convidou para cortar o cordão...
A Paty também fez a arte com nossa placenta... escolhemos as
cores laranja e o roxo e, em seguida, ganhamos essa linda e artística
lembrança.
Muitos parabéns, mas todos saíram rapidamente e nos deixaram
lá... por quase uma hora.. só curtindo aquele corpo a corpo... aquela pele
sujinha na pele quentinha da mamãe... papai falava e já era atendido por
olhinhos atentos... Foram momentos de privacidade deliciosos... quando a
privacidade teve que ser quebrada, um pediatra entrou. Gentil, sereno, nos
pediu a neném, fez os exames todos, nos explicando como ela estava bem!
Por fim, nos avisou que chamaria a enfermeira para vestir a
neném.
Logo mesmo a doce senhora estava conosco, nos ajudando a
vestir a roupa escolhida...
Bem vestidinha, a neném voltou pro nosso colo..
Infelizmente (mais tarde eu retiraria a palavra Infelizmente...
e pensaria em “por sorte”) o doutor retornou se desculpando...
“Ela está mesmo ótima, de verdade. Não se preocupem com
nada... mas não me atentei ao peso do nascimento... ela está com 2040 g... e
ela vai perder peso, o que é normal, nos próximos 3 dias, por isso precisa ir
pra neonatal ser monitorada até estabelecer um ganho permanente e atingir 2 kg
para vacinação e alta.”
Na neonatal a equipe era ainda mais incrível, explicaram
incessantemente que tudo estava bem e deram a maior força e auxílio para a amamentação
exclusiva.
Uma psicóloga foi nos visitar e se colocar à disposição para
que passássemos pelos temores e frustrações da internação do nosso tesouro. Ela
também faz parte desse paraíso de maternidade onde fomos dar à luz.
Além disso, tia Karina, a fono, nos treinava diariamente,
todas as manhãs, para aprendermos a amamentação... tanto eu, quanto Angelina.
Mamar não é fácil sabiam?! Apesar de natural, requer paciência, calma, dói...
precisa de treino e técnica, de nós duas.
Mesmo assim doía bastante e não passava... por isso a equipe
da ordenha entrou em ação...
Nos visitaram na neonatal, conversaram sobre benefícios e problematizações
da ordenha, explicaram sobre fórmula e sobre todas as opções da Angelina...
Verificaram a saúde dos bicos do seios, me ensinaram a ordenhar, a higienizar,
a armazenar o leite. A verificar a pegada. Ensinaram tudo, várias e várias
vezes. Me ajudaram a ordenhar para poder ir descansar em casa e deixar leite
pra rainha...
As chefes de enfermagem vinham nos tranquilizar a cada
mudança de plantão.
A pediatra também.
Depois que recebi alta, as refeições no refeitório ficaram
pra mim e papai fazia lanches externos... mas tudo bem, papai e eu nos revezávamos
para fazer o contato pele a pele com a nossa neném, que ganhava peso
diariamente e rapidamente.
Claro que foi pesado ficar 8 dias com nosso pacotinho de
amor internado... mas depois... repensando... Lembram se que eu disse que talvez
tenha sido “sorte”? Pois é... durante 8 dias fomos assistidos por enfermeiras, fonoaudióloga,
fisioterapeuta, equipe de ordenha, pediatra e psicóloga, 24 horas por dia.
Tínhamos 4 refeições a disposição e lugar para tomar banho quente e trocar de
roupa. Tínhamos enfim, toda a rede de apoio necessária.
Recomendo esse lugar pra qualquer mãe! É mesmo a melhor e
mais humanizada experiência para dar à luz...
O valor dessa experiência?
3 dígitos:
SUS !
Não escrevo de graça, pois não é, é pago por nossos impostos, mas sim, tivemos todo esse luxo por direito adquirido. Gratuitamente pela ocasião apenas de ser contribuinte... apesar de que, mulheres a margem da sociedade, adictas e refugiadas, ou seja, mulheres não contribuintes também tinham acesso a esse lugar. Que maravilhoso! Que grandioso! Que grande prova de que nosso SUS é um tesouro nacional e também tem plenas condições de amparar a todos, contribuintes ou não, porque afinal, digam o que quiserem, nosso país é riquíssimo.... É apenas de uma má distribuição de renda cruel.
Falando em amparar... esse é o nome do lugar: Amparo
Maternal, nosso ninho das melhores recordações da vida!
E viva o SUS! neh Angelina!?
E viva essa gente boa e valiosa que é o verdadeiro segredo
do SUS.
E VIVA OS 2 PRIMEIROS MESES DA
MIMHA RAINHA ANGELINA!
As fotos são do primeiro mês!
Mamãe vai atrasar um mês as postagens...rs... ou quem sabe, uma hora dessas, poste duas ao mesmo tempo. Afinal, tirar fotos
de mesversário não é a prioridade por aqui... papai e eu gastamos muito, muito
tempo apenas assistindo Angelina crescer....