Corpo
Ruindo – Paula Garcia
Em
homenagem
Os
versos pausam com os silêncios
Ruindo,
ruído, ruir,
Desmoronar
O primeiro impacto é do som
Estridente
arremessado
Contra
O
osso esterno
Existe
o som que ela quer
Produzir
Mas
os acidentais
A
tornam mais viva
X
Ela
é linda
O
trabalho sem razão
A
quarta parede
O
quase completo esgotamento
É
tudo tão sujo e tão lindo
Mas
esmagador
Estridente
beleza invade
O
espectador
Mesmo
com a quarta parede muito
Bem
estabelecida
Uma belíssima figura
em
Um ambiente hostil
Parece ela ser
emoldurada
Pelos pedaços de
ferro
Sujos e agressivos
O quadro me remete a
opressão da produtividade
Capitalista
Ao trabalhador braçal
sem
Horizontes, nem
objetivos, nem permissões, sem
Permissão para criar
Sonhar, descansar ou
Se proteger
De repente tudo me
causa
Desconforto e
agressividade
Sinto-me invadida
Oprimida
Há pregos no chão
Estou torcendo para
que ela
Os pegue em punhados
E os atire contra
As paredes, contra o
teto
Quem sabe contra a
quarta parede
Minha respiração se
torna
Terrivelmente difícil
Me remeto a Chaplin
Linhas de produção
Revolução industrial
Um barulho histórico
Ensurdecedor
Começo a sentir o que
nunca
Vivi, transgrido
Minha opressão e
ansiedade
Sinto raiva, uma
Raiva histórica,
fremente
Meu cenho esta
franzido.
X
As costas doem os
braços pernas dedos tudo
Quer descansar, mas
Fantasmas não me
permitem
Sem refúgio ou
proteção
Esmagada
A bela figura
E eu e nós
Será que ela sente
raiva?
Eu sinto
Será que a raiva
ajuda
No cansaço físico ou
Mental?
Auxilia a
sobrevivência do ser como num ataque animal ou numa disputa intuitiva por
abrigo? a raiva é instinto corporal para a sobrevivência sobre os escombros
De ferro?
Ser uma mulher é
muito significativo pra mim pois há uma força bruta constante e persistente sem
rompantes ou explosões, há objetos fora do limite da quarta parede, e ainda
espero a chuva de pregos, será que no
fim do dia ela se lembra de tudo o que pensou? Ela pensou? Ela criou lógicas,
sensações artísticas sobre seu trabalho incessante e sem objetivos? Ela não tem
protetores auriculares
X
Escrevo no ritmo
Que ela constrói ou
se
Movimenta
Esfriamos?
Havia uma lógica
Que se esvaiu?
Você sonha
Com isso a noite
Dama de ferro?
Tem mulheres do meu
lado
Mexendo no celular,
O barulho invade como
Agressão, ao
trabalho,
Não a arte
Será que deveríamos
Solenizar o trabalho
Braçal do indivíduo
tanto
Quanto solenizamos
A arte? Ela tirou
As luvas
Me preocupo
Não faz isso
Dama de ferro
Ela
(A partir de agora
ela está em silêncio, portanto meus devaneios estão minguando vagarosamente,
não obedeço mais o barulho ouvido, mas o causado internamente)
...
...Toma água...
...Lava mãos...
...E rosto...
...E quase...
...Me lembro...
...De uma canção...
...Do Chico...
...Mas não lembrei...
...Algo sobre... pão
e tijolos...
...Me lembro de
uma...
...cena com essa
canção...
...mas não me lembro
da canção...
... “ O patrão nosso
de cada dia, dia após dia”...
...esse refrão ecoa
na mente...
...enquanto a vejo
comendo uma maçã...
...mas não era esta a
canção da qual quase me lembrei...
...e ela agora
inerte... o refrão se torna mais alto...
... e tenho que
registrá-lo...
...depois de longos
minutos no descanso dela...
...meu coração
acelera e tenho vontade de que ela recomece...
... o descanso dela
me insulta...sou o patrão?...
Shhhhhhhh
...a sala ao lado não
respeita o descanso dela...
...nem a impaciência
da minha espera...
...queria muito que
ela recomeçasse...
...vou embora
frustrada... .
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