Amigo

Amigo

Se você tem esse endereço eletrônico é porque é mais do que bem vindo

Com certeza você me ensinou a escrever

me ensinou a apreciar a boa literatura, a filosoia e a canção

participou de meus primeiros rabiscos

valorizou minha alma vertida em palavras

certamente você esteve presente em momentos importantes

poéticos ou frustrantes, pacificos ou revolucionários

provavelmente já escreveu comigo ou ao meu lado

já leu alguma coisa minha e me pediu mais

ja me incentivou e ja me corrigiu

você já fez sarau, caretas, fofocas e confidencias comigo

e eu já te amei ou ainda te amo

e você sabe que nossa distancia não é nada

e você sabe que odeio computador

e você sabe que nunca publiquei e que não creio que o acesso a internet me faça poeta

você sabe que não tenho um grande valor literário

mas que valorizo a literatura

você sabe que um dia gostei que você me leu

e que quero ler você

você sabe que escrevo por necessidade, porque faz parte de mim

e que me envergonho de ter me distanciado tanto disso

você sabe que não tenho estilo

só paixão

Você sabe que você cabe em cada uma das palavras anteriores

Prazer em recebê-lo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Insônia hormonal

Todas as palavras já foram escritas

Os amores esquecidos

O aroma do frescor se dissipou

A fé se esvaiu

A esperança envelheceu

E os sonhos caducaram como promissórias amareladas

no fundo da gaveta cheirando a naftalina

O gosto de sangue na boca

Da última mordida na veia da poesia

Agonizo como Odette emplumada

À beira de um lago seco

Mas a traição que me matou não foi ingênua 

Todo amor trai

Porque todo o amor é ilusão 

e medo 

e fraqueza

Amor é amor a nada...

A poesia soca me o estômago vazio 

Que não é capaz de regurgitar nada

Visita-me Augusto  

Anjos, sobrevoa as intenções da palavra

Sem, contudo,

me dar a capacidade vocabular de seu espírito profano.

Melancolia de Clarice

Dureza rústica e irônica machadiana

Ilustres mestres.

Muito distante de mim

Sobra mesmo somente a inspiração muda

Cuspindo areia da garganta seca 

Com o cheiro ferroso e pútrido

Da morte no hálito 

De ambas as bocas raivosas do corpo feminal.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Poemas na madrugada

Não sei como começar

Sinto lhe tão meu

E ao mesmo tempo tão etéreo

Me prometeu certa vez que nunca iria embora,

Mas demorei a perceber que nunca esteve aqui,

Sempre cuidei para não te machucar

E isso me colocou no lugar de fera

Que talvez eu seja

Fera solitária e megera no topo da cadeia alimentar ...

Mas fui tola, mal percebi que não posso machucar quem não se deixa tocar 

Tinha tanta certeza de possui lo

E esqueci de verificar o quão vãs eram suas palavras

Eram escritas na areia e não firmadas sob o selo da cera quente

Jamais abriu espaço para mim

E meu instinto me preservou desse lugar estrangeiro em que me manteve

Palavras doces inebriavam meus sentidos

A pele quente derretia as gélidas camadas alvas que me revestiam 

Mas por fim

Sua idolatria que me enfeitiçou como a Narciso

Era idolatria de deuses de barro

Falsas estatuetas num altar que não existe

Uma deusa vazia

Mendicante 

Trêmula e frágil

Que você insiste em manter distância.

Ah falso profeta! 

Falso súdito!

Falso servo!

Enfadonha dialética que se repete. 

Nunca te tive de verdade

E tenho um frio vazio aterrorizante no meio do peito

De medo de te perder.