Chegou em casa
transpirava purpurina pelos olhos
o coração com uma leve ferida que insistia em lembrar,
lembrar que…
O dia tinha sido perfeito. Não aquelas perfeições de filme. Tinha chovido e ela não se molhou com uma música tocando ao fundo, ela molhou a mochila cheia de figurinos e teve que gastar com um uber, mas o uber veio de primeira e a viagem foi agradável e seu destino a recebeu com a mesma gentileza de sempre. Ela tinha atendido muitos problemas pelo celular, mas nenhum tirou dela a alegria de um dia especial para seus alunos. A chuva atrapalhou todos os planos, o cenário teve que ser removido, as crianças ficaram ansiosas com a mudança, a coordenadora ficou triste. No entanto, ela estava em paz.
Uma paz dolorosa, è verdade! A feminilidade teimava em escorrer-lhe do útero em contrações dolorosas. Talvez isso tenha atrapalhado a leitura delicada de sua face feliz e em paz em ver mais uma turma de alunos chegando ao palco.
O dia cansativo, cheio de refletores, escadas, papéis, tecidos e o telefone cheio de mensagens para que resolvesse questões de outros trabalhos.
As crianças amedrontadas, acabaram por se soltar e fizeram um lindo espetáculo.
Abraços, beijos, agradecimentos sorridentes, pais satisfeitos, chefes loiras com belos sorrisos estampados. O dia foi um sucesso.
Pegou sua mochila, sua mala, sua playlist e foi pra casa numa lotação.
A playlist ajudava a calar seu coração, com a leve ferida que lembrava…
Chegou em casa, subiu o elevador e naquele espelho se deparou com a maquiagem brilhante no rosto. Purpurina, borboletas, glitter e alegria… Dançou no elevador sem se importar com as câmeras.
Entrou em casa ainda dançando, saltitando, rodopiou na sala escura ainda depois de largar a mochila no canto. Riu e se sentiu satisfeita consigo mesma.
Acendeu a luz e se deparou com o homem que estava sentado no sofá sorrindo.
Tomou um susto.
Então ambos gargalharam.
Ele se levantou do sofá e foi até ela no meio da sal.
Ela ainda se recuperava do susto, ele ainda sorria, de um sorriso sincero e radiante que iluminava todo o cômodo. Olhou profundamente em seus olhos e disse como a amava tanto por ser tão viva.
A imagem dele desapareceu com a playlist que acabava nos fones de ouvido…
Transpirava purpurina pelos olhos
O coração com uma leve ferida que insistia em lembrar,
lembrar que… estava sozinha.
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