Amigo

Amigo

Se você tem esse endereço eletrônico é porque é mais do que bem vindo

Com certeza você me ensinou a escrever

me ensinou a apreciar a boa literatura, a filosoia e a canção

participou de meus primeiros rabiscos

valorizou minha alma vertida em palavras

certamente você esteve presente em momentos importantes

poéticos ou frustrantes, pacificos ou revolucionários

provavelmente já escreveu comigo ou ao meu lado

já leu alguma coisa minha e me pediu mais

ja me incentivou e ja me corrigiu

você já fez sarau, caretas, fofocas e confidencias comigo

e eu já te amei ou ainda te amo

e você sabe que nossa distancia não é nada

e você sabe que odeio computador

e você sabe que nunca publiquei e que não creio que o acesso a internet me faça poeta

você sabe que não tenho um grande valor literário

mas que valorizo a literatura

você sabe que um dia gostei que você me leu

e que quero ler você

você sabe que escrevo por necessidade, porque faz parte de mim

e que me envergonho de ter me distanciado tanto disso

você sabe que não tenho estilo

só paixão

Você sabe que você cabe em cada uma das palavras anteriores

Prazer em recebê-lo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Chegou em casa

transpirava purpurina pelos olhos

o coração com uma leve ferida que insistia em lembrar,

lembrar que…


O dia tinha sido perfeito. Não aquelas perfeições de filme. Tinha chovido e ela não se molhou com uma música tocando ao fundo, ela molhou a mochila cheia de figurinos e teve que gastar com um uber, mas o uber veio de primeira e a viagem foi agradável e seu destino a recebeu com a mesma gentileza de sempre. Ela tinha atendido muitos problemas pelo celular, mas nenhum tirou dela a alegria de um dia especial para seus alunos. A chuva atrapalhou todos os planos, o cenário teve que ser removido, as crianças ficaram ansiosas com a mudança, a coordenadora ficou triste. No entanto, ela estava em paz.

Uma paz dolorosa, è verdade! A feminilidade teimava em escorrer-lhe do útero em contrações dolorosas. Talvez isso tenha atrapalhado a leitura delicada de sua face feliz e em paz em ver mais uma turma de alunos chegando ao palco.

O dia cansativo, cheio de refletores, escadas, papéis, tecidos e o telefone cheio de mensagens para que resolvesse questões de outros trabalhos.

As crianças amedrontadas, acabaram por se soltar e fizeram um lindo espetáculo.

Abraços, beijos, agradecimentos sorridentes, pais satisfeitos, chefes loiras com belos sorrisos estampados. O dia foi um sucesso.

Pegou sua mochila, sua mala, sua playlist e foi pra casa numa lotação. 


A playlist ajudava a calar seu coração, com a leve ferida que lembrava…


Chegou em casa, subiu o elevador e naquele espelho se deparou com a maquiagem brilhante no rosto. Purpurina, borboletas, glitter e alegria… Dançou no elevador sem se importar com as câmeras.

Entrou em casa ainda dançando, saltitando, rodopiou na sala escura ainda depois de largar a mochila no canto. Riu e se sentiu satisfeita consigo mesma.


Acendeu a  luz e se deparou com o homem que estava sentado no sofá sorrindo.

Tomou um susto. 

Então ambos gargalharam. 

Ele se levantou do sofá e foi até ela no meio da sal.

Ela ainda se recuperava do susto, ele ainda sorria, de um sorriso sincero e radiante que iluminava todo o cômodo. Olhou profundamente em seus olhos e disse como a amava tanto por ser tão viva.


A imagem dele desapareceu com a playlist que acabava nos fones de ouvido…


Transpirava purpurina pelos olhos

O coração com uma leve ferida que insistia em lembrar,

lembrar que… estava sozinha.



sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Conheço essa sensação

A última vez 

Uma mão de ferro agarrava a ponta de uma corda de ouro

Quando o ar me faltava

Mesmo com golfadas de brisa fresca tamborilando minhas penas

A mão de ferro triscava o ouro da corda 

Torturando o pequeno animal na outra ponta

Meu peito esta arfando

O bico entreaberto engole em seco

Sem canção 

A mão de ferro pesa com a gravidade 

No limite adequado para manter a pequena ave no ar

Não sente o gosto da terra no chão

Menos ainda a liberdade do céu 

A mão de ferro 

Puxa o cordão de ouro

Que ornamenta a fina pata do canarinho

Ainda não respiro

Como é fácil fazer de novo

De novo e de novo

Porque escravizo me assim em completa oposição ao meu real desejo?

Minhas asas estão cansadas

Mas quero o céu 

Corto a corrente de ouro

E deixo a mão enferrujar nas intempéries do adeus

terça-feira, 23 de novembro de 2021

 Querubim,

Tão garoto,

Tão leve

Beira a displicência 

Displicente com as palavras, com as promessas, com o próprio amor...

Displicente como as chamas são ao vento.

Displicência que enraivece a alma apaixonada 

Profundamente apaixonada e sedenta de futuro

Desejo intensamente que todos os meus sonhos se realizem

As refeições, os beijos, as camas que fantasio

Tenho a exigência da juventude que me escapa

Enquanto tens a displicência da juventude em que se finda

Raiva e desejo se combinam às frustrações, alternadas com as migalhas de carinho

Novamente me vejo mendicante 

Ávida pelas migalhas que caem das mesas do meu senhor

Liberta me.

Asas e pavimentos


Voei a vida toda

Já fui chamada de passarinho

Já me prenderam, me alvejaram, arrancaram minhas penas

Mas nunca soube como parar de voar

Voei, voei muito, amo voar, mas

Minhas asas estão cansadas, despedaçadas já...

Meus pés anseiam o chão

Busco quem pavimente o caminho

Com pedrinhas de brilhantes para o meu amor passar

Busco a terra, porque sou o ar

Busco o chão, porque sou o abismo

Busco a jangada que desbrave meu oceano

Só quero pousar e caminhar lado a lado

Se as pedrinhas cutucam a sola dos pés, não faz mal

Porque realmente não consigo mais me sustentar em pleno voo

Esperança

Esperançava em você, menino homem, a medida certa do meu ladrilhar

Mas voas muito mais que passarinho

Tem asas poderosas de arcanjo

Sobe e desce entre o paraíso e o inferno comigo nos braços todos os dias

E eu só queria pousar meus pés no chão

Passarinho não é feito foguete

E esse passarinho precisa plantar os pés no chão

Quero dizer-te adeus

Sabia que devia dizer-te adeus desde quando abri meu coração pra você entrar

Desejava fazer isso depois de possui-lo

Mas voas pra longe... e pra longe... e cada vez mais alto e pleno e belo voo

E eu, passarinho, fico a cantarolar sua ausência

Meu canto se transforma em adeus

Adeus meu anjo

Meu bem querer

Adeus...

Voa sim! Voa muito e muito alto... voa... que te amo o suficiente pra ficar.